Ciro BrighamLideranças afro-religiosas de sete estados se reúnem neste final de semana, em Salvador, para discutir o fortalecimento das ações em saúde e biossegurança para os terreiros de candomblé, umbanda e casas de giros de cablocos. Os debates sobre a Aids e a hepatite, durante o V Seminário Nacional Candomblé, Saúde e Axé, prometem gerar reivindicações que levem as esferas responsáveis pela saúde pública a criar e direcionar ações de prevenção específicas para os povos-de-santo. A estimativa é de que aproximadamente 300 representantes de religiões e entidades sociais participem do seminário, que tem abertura hoje à noite, no Teatro Gregório de Mattos, e programação até domingo no Hotel Vila Velha, Corredor da Vitória.Os diálogos e fóruns entre as lideranças das religiões afro-brasileiras são considerados fundamentais para a disseminação de experiências que dão certo na prevenção e capacitação dos terreiros na luta contra a Aids. É o caso da Associação Cultural de Mulheres Negras do Rio Grande do Sul, cujas iniciativas foram reconhecidas em forma de prêmio pela ONU e pelo Ministério da Saúde. O Centro Baiano Anti-Aids, por exemplo, desenvolve desde os anos 90 um projeto junto aos representantes de casas religiosas, para que conduzam ações em suas comunidades. "Os centros religiosos aglutinam uma rede social enorme. Eles têm uma função social e educativa muito grande, porque estão localizados em áreas populares, e recebem uma clientela carente de informação", explica o presidente do centro, Marcelo Cerqueira. Nos próprios terreiros, a vulnerabilidade à Aids e à hepatite era grande. Em algumas nações, os membros utilizavam o mesmo instrumento pérfuro-cortante nos rituais coletivos de iniciação. Considerada de alto risco, a prática foi desaconselhada, e a maioria dos terreiros passou a utilizar navalhas descartáveis ou esterilizadas, de uso individual. "Fazemos questão de destacar que a orientação não vai de encontro ao comportamento milenar, à prática tradicional que veio da África. A biossegurança não fere essa cultura", argumenta o educador social e coordenador da seminário, Oséas Santana. "Hoje a adesão é grande, o pessoal está consciente, e os terreiros têm feito a sua parte", assegura Marcelo Cerqueira. Do seminário, as entidades participantes vão tirar um documento para encaminhar ao Ministério e às secretarias estadual e municipal de Saúde, que além de apontar o resultado das discussões nas mesas de debates, cobrará do poder público políticas de saúde mais eficazes e específicas para o público dos terreiros. "Queremos que as boas experiências se transformem em modelos de ação em saúde", comenta Oséas Santana. "Nossa preocupação é especial com as médias e pequenas casas, que têm sido negligenciadas, e não podem esperar mais", afirma Marcelo Cerqueira.
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